quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ter uma banda ou ter uma namorada?

Além de sermos viciados em conhecer os botecos "majors" e "undergrounds" de São Paulo, temos outra grande paixão: MONTAR BANDAS. Isso parece mais fácil do que as pessoas pensam, mas, se quiserem uma dica, não entrem nessa de comprar instrumentos e tentar achar alguém para montar uma banda com você. É melhor perder o tempo em achar uma namorada, pois as duas coisas são bem parecidas, tendo apenas uma valiosa diferença: com a namorada há uma grande chance de você fazer sexo!!!!!

Uma banda não é muito diferente de uma namorada, portanto o relacionamento é baseado em preferências, brigas, traições, perda de tempo e alguns momentos de alegria. Assim como é de se imaginar, pedimos até um tempo e finalmente terminamos a relação (musical) e nunca mais queremos ver os antigos membros de banda.

Nós, eu junto a meu companheiro de Blog (Urubu), já tivemos diversas bandas, umas duraram anos e outras duraram até o último gole de cerveja numa tarde de sol nas terras paulistanas. Mas chega de introduções e vamos aos fatos, comparando um namoro com uma banda:

- O começo de uma banda é maravilhoso, tudo é novidade, temos aquele friozinho na barriga nos primeiros ensaios e, depois de desligarmos o último amplificador, ficamos com a sensação de queremos mais. Isso dura só os primeiros meses!!!! Nada diferente aos primeiros meses de um namoro, ok???;

- Após alguns meses, os problemas começam a aparecer. A responsabilidade de comprar uma casa para morar ou se no caso da banda, a responsabilidade de gravar um CD Demo. Todos os componentes da banda possuem as suas próprias opiniões e teorias de como deve ser o som da banda ou a capa do CD. Até então a necessidade de tocar conseguiu unir fãs de Joy Division e de Slayer numa boa... Até então...


Os componentes da banda possuem também as características de uma garota (se você for uma garota, por favor, envie para o Blog a comparação de um garoto!!!), vamos então por parte:

- Vocalista é aquela garota que gosta da sua vida social e faz de tudo para ter a atenção com os amigos dela e com os seus, quer sempre falar na sua frente e faltamente vai te abandonar para tentar uma vida solo, realizando várias parcerias (você então fica na fossa) ou arruma uma banda com músicos melhores e mais ricos;

- Guitarrista é aquela que vai até as últimas conseqüências com a banda, não importa o quanto a relação esteja comprometida com o seu amor (a banda). Tenta de tudo e só desiste quando a banda ou o vocalista começa a paquerar outros músicos melhores que ele;

- Baixista é aquela garota que está lá, você fica com ela, curte uma noite e depois nem liga no dia seguinte. Não fará falta na sua vida e melhor, ela que irá atrás de você. O mercado indica que existem mais guitarristas do que bandas, então e só convencer um a trocar de preferência e mudar para o baixo (eu mesmo ando fazendo isso diversas vezes);

- Baterista é o seu problema, não é fácil arrumar aquela garota e, quando isso acontece, você fica perdidamente apaixonado por ela, mas ela não está nem aí com você. Por sinal, ela é problemática e pode a, qualquer momento, te abandonar, desistir para sempre da vida (neste caso, tocar) e cometer o suicídio. Muitas bandas acabam assim.


Após vários anos com a banda, você começa a querer flertar com outras bandas, pois a sua banda ficou velha e não te dá mais aquele tesão. Não há como resistir a tentação e você acaba arrumando uma outra banda, e tem o prazer quase que sado masoquista de tocar com ela na frente de seus antigos companheiros.

Bem, espero ter conseguido mudar as opiniões sobre ter uma banda. Desistam logo, pois isso é um vício e, caso você seja um baterista, ligue para nós, pois estamos precisando urgente nos apaixonar novamente.

Fecha e conta e vamos partir mesmo para um violãozinho.


3M

terça-feira, 27 de maio de 2008

Preguiça



Sou um preguiçoso.
Demais!
A preguiça é tanta
Que não sei como tomei este impulso.

Sou inércia,
Indecisão,
Lentidão,
Cansaço,
Moleza,
Sono...

Demorei dias pra pegar a caneta
E pensar...
Ah, pensar...
Mais tarde...

O papel pesa
E minhas forças, que não são muitas,
Esvaem-se,

Sou isso,
Minha essência é desse estado
Que todos desprezam, e condenam,
E por isso me odeio.


Sou feito assim.
Meio que pela metade,
Meio que sem vontade.

Sou esse mal, quase um câncer:
Esse não ser,
Esse quase ser,
Esse meio-ser... ...ou nem isso...

Sou esse jeito de meio-viver preguiçoso,
Lento e desmotivado,
Que as pessoas não se cansam de insultar.
E justamente por isso me amo.
E por isso me odeio ainda mais.


Urubú

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Manisfesto Carnívoro

Cada época tem sua moda. Os anos 60 viu a liberação sexual, os anos 70, as danças exageradas e o gosto musical duvidoso, nos 80 foram as maquiagens e os cabelos que poluíram o mundo com sua sobrecarga, no final dos 80, início dos 90, o último movimento musical autêntico foi quem ditou a moda. Enfim, algumas modas vêm pra dar mais graça ao mundo, deixar as coisas por aqui mais interessantes, enquanto outras são lançadas sobre a Terra como forma de purgar seus habitantes. Algumas tendências atuais ilustram bem esses castigos que alguns gênios da estética lançam e a população, como que por um poder hipnótico de alguma força superior, compra.

Comecemos com essa história de culto ao corpo. Hoje, a beleza das pessoas é diretamente ligada à massa muscular, no caso masculino, ou a quantidade de gordura corpórea, quando a questão envolve as mulheres. Pra se alcançar o corpo dos sonhos é necessário horas e horas de academia, puxando ferros, fazendo movimentos repetitivos e entediantes, cercado de toda a sorte de narcisistas e pessoas desinteressantes (claro que há exceções, mas são exceções). Juro que até tentei, em remotos tempos, começar a praticar musculação, mas não passei do segundo dia, era insuportável. Com a exigência de tempo que a vida moderna demanda de nós, precisamos fazer opções e, rotineiramente, essas opçõs devem ser feitas entre o corpo ou o intelecto. O corpo vem ganhando o embate.

Esse culto ao corpo é eufemisticamente chamado por seus adeptos de cuidados com a saúde. Acontece que a saúde, até onde eu entendo, envolve corpo e mente, e, com essa escolha pelo corpo em detrimento da mente, a famosa frase de Juvenal, Mens sana in corpore sano vem sendo desprezada e perdendo seu sentido. E para se ter uma mente sã neste mundo maluco, nesta cidade caótica, é preciso de um escape para nossa cabeça cansada, estressada, um dos melhores métodos é uma boa botecada com os amigos. Pois bem, e não é que há uma campanha contra o álcool procurando ganhar força com esse discursinho de saúde e não sei o que mais. Felizmente esses moralistas parecem não estar conseguindo tantas adesões assim, ao considerarmos o número de botecos, de vários estilos, que aparecem na cidade a cada dia, especialmente na Vila Madalena. É impressionante! E todos eles com gente saindo pelo ladrão, até nos dias mais incomuns.

Mas o que mais me tira do sério, e também o que me motivou a escrever essas estressadas linhas, é essa onda de vegetarianismo. Nada contra as pessoas que decidem passar suas vidas comendo mato e raízes, mas quando isso passa para um âmbito quase que religioso, como está acontecendo, aí começa a me afetar. Eles vêm como em uma pregação, querendo impôr uma doutrina. Olham para nós, comedores de carne, com desprezo, como se estivéssemos cometendo algum crime hediondo. "Não como nada que tenha um rosto": esse é um adesivo automobilístico que me desperta os sentimentos mais ambíguos. Quando estou de bom humor eu dou risada e faço chacotas mentais dentro do meu carro, já quando estou de mau humor, naquele trânsito danado típico de São Paulo, profiro alguns adjetivos simpáticos para estravazar a raiva. E o discurso de defesa da ideologia chamada "Vegan" então, dizendo-se ecológico e a favor da vida, é mais paradoxal do que qualquer discurso religioso. Se é em favor da vida, as plantas também são seres vivos, pelo menos foi o que aprendi lá na escola, tudo bem que faz muito tempo, mas não vi nos jornais, desde então, nenhuma grande descoberta científica que refutasse essa teoria. Devem viver de água e luz solar. Isso sem contar a história da soja, que substitui a necessidade de carne que o corpo tem. A mesma soja que é plantada por latifundiários inescrupulosos que estão acabando com a amazônia. É como disse recentemente o novo ministro do meio-ambiente, Carlos Minc, há alguns dias atrás: "se deixarmos, eles plantam soja até nos Andes". Isso tudo sem falar na necessidade do corpo humano pela carne, não vou entrar a fundo nesse mérito por minha falta de competência nele (não que tenha nos outros, mas neles sinto-me mais a vontade para meter o bedelho), mas me parece que o ser humano tem a necessidade de suprir o corpo com elementos presente nela, se não fosse assim, porque não somos herbívoros? Não acredito em uma evolução da espécie bem agora.

Bom, no fim das contas o que realmente interessa é o prazer. A carne dá prazer, muito prazer! Aquela picanha, assada no ponto certo, tostadinha por fora, rosadinha por dentro, com um resquício de sangue que desce com a agreção da faca ao cortar um sucelento pedaço, que será saboreado logo após um refrescante gole daquele choppinho maravilhoso, devidamente tirado, com seu colarinho cremoso. Ah, pelo amor de Krishna, disso eu nunca me privarei. E aconselho a vós, irmãos, que também não o façam. A vida é muito curta pra ser vivida com tamanhas privações desses pequenos prazeres.

Juvenal, traz a saidera!


Urubú

terça-feira, 20 de maio de 2008

Pensamento da semana

"Muitas vezes é melhor o desejar ter ao ter deveras."


Urubú

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Paulistanos: incomodamente ternos

São Paulo tem a fama de ser uma cidade fria, não só em seu clima (que nesses últimos dias tem confirmado essa máxima, mas que em boa parte do ano a contraria com dias sufocantes) como também nas relações entre as pessoas. Pois bem, utilizando-se de um olhar mais distanciado essa frieza paulistana até se confirma, mas uma pequena faísca pode esquentar essa alma que vive em uma cidade que a reprime e a mantém o tempo todo ressabiada. O mais interessante disso é, como tenho reparado, que quase sempre tal faísca é provocada pelo incômodo.

Neste último sábado fiz algo que tenho feito muito pouco: tomei um ônibus. Esse estava relativamente vazio e com alguns lugares vagos. Sentei-me naquele banco do fundo, no acento central de frente para o corredor, aquele em que ficamos sempre tensos imaginando que uma freada mais brusca do motorista nos fará ir conversar com ele, com a cara grudada no pára-brisa. Depois de acomodado olho para frente e reparo em um monitorzinho de plasma, que incrivelmente já estão deixando de ser modernos, com a imagem de um rosto feminino se maquiando e dando instruções sobre como se maquiar. Já estava pensando no poder hipnótico que essas telinhas têm, todos em silêncio compenetrados na lição de beleza (beleza bem discutível aliás, a mulher estava com a cara pintada como uma boneca, esse tipo de exagero só pode ser para incentivar o maior consumo de cosméticos), quando alguém a meu lado dirige-se a mim reclamando que achava ridícula a programação das tais telinhas e que devia-se veicular coisas mais úteis e interessantes. Concordei com o rapaz e começamos a tirar um sarro da programação da TV Buzão, assim tivemos uma viagem rápida com um papo bacana. Após algum tempo, vendo duas senhoras começarem a conversar sobre a falta de educação dos motoristas que não as deixavam atravessarem a rua, pus-me a lembrar de outras situações que vivi ou presenciei e reparei que quase sempre essas conversações são ocasionadas por fatos que incomodaram os interlocutores.

Assim sendo, pude listar alguns locais mais propícios a essas breves amizades: ônibus, trens e metrôs (especialmente os lotados e atrasados), repartições públicas (com seus funcionários sempre prontos a te ignorar), hospitais e, sobretudo, as filas de banco (principalmente quando pensamos em seus lucros anuais absurdos divulgados pela mídia). Esta solidariedade vinda da cumplicidade em um momento de incômodo parece ser a mesma que percebemos em grande escala, quando acontecem grandes tragédias e as pessoas se mobilizam para ajudar a desconhecidos. Claro que não estou aqui tratando dessas grandes desgraças, mas de pequenas situações cotidianas que incomodam e atrapalham a vida das pessoas. Nos grandes centros urbanos as pessoas estão sempre muito tensas e são educadas a desconfiarem de tudo e de todos a sua volta. O caso específico de São Paulo parece um pouco pior, essa tensão alcança níveis estratosféricos e não há grandes válvulas de escape, como a praia para o carioca, por exemplo. Para qualquer lugar onde olhemos a cidade nos agride, com um cinza bélico, um cheiro químico e uma barulheira que nem ouvimos mais, porém nos perturba sigilosamente. Isso tudo vai minando a alma paulistana e a deixando cada vez mais dura, calejada. No entanto essa dureza está sempre sujeita a um enternecimento, desse jeito paulistano, reclamão que se incomoda facilmente com qualquer coisa, claro. Afinal, esse processo de calejamento vai tirando a paciência dessa alma perturbada.

Talvez devêssemos tentar ser mais pacientes, mais compreensivos e mais amistosos em situações normais. Provavelmente isso melhoraria nossa qualidade de vida, nosso ânimo, nosso humor, enfim, nossa relação com o mundo. Mas, se fôssemos assim, não seríamos mais paulistanos. Essa é, bem ou mal, a nossa identidade, a identidade de um povo que consegue ser incomodamente terno.


Urubú

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Fabuloso Mundo de Peter Pan localizado nas Terras Tupiniquins do Faz-de-Conta

Às vezes tenho um estalo e penso em uma mesa de Bar: como um simples “ser” dos livros infantis pode capturar todos os brasileiros e levá-los ao mundo de Faz-de-conta.


No próprio Bar já vivemos nesse mundo, acreditando que os petiscos seguem todas as regras de higienização, que a cerveja está gelada, que as mulheres serão todas legais e compreensíveis quanto voltarmos para casa, que a conta estará certa, etc... etc... etc... Se neste local sagrado ocorre isso, imagine nas demais terras tupiniquins onde tudo não passa de uma fantasia (por sinal, será que é isto que faz o Brasil a terra do carnaval?). Alguns dias sob a garoa e a rotina sufocante de São Paulo eu consegui descobrir isso, vamos aos fatos (adoro listar os exemplos!!!!!):

- Na terra de Faz-de-Conta construída por Juscelino Kubistchek, onde os garotos eleitos que nunca crescem e vivem fazendo traquinagens, continuam colecionando CPIs e escândalos todos os meses. Nós, os outros garotos que não crescemos (apesar do Plano PAC do garoto Lula), deixamos de cobrar as ações necessárias para que os garotos eleitos fiquem de castigo. Você sabe o porquê disso? Para comentarmos e ficarmos apaixonados com os casos dos Pais que mataram a sua filha. Hoje o Brasil só fala disso, criou-se um romance em volta da tragédia que envolve somente os Pais, a Filha e a Polícia.
Os verdadeiros assuntos que precisam do nosso apoio são colocados de lado para fofocarmos sobre o assassinato e o mais novo lançamento da impressa feita por crianças: o “ídolo” Ronaldo (nunca achei que ele jogasse tanta bola!).

- As próprias CPIs são faz-de-contas, onde o perigoso Capitão Gancho não resolve nada e não pune ninguém. Você ainda acredita nelas?

- Onde achamos que as filas de idosos ou gestantes são necessárias (nesta hora vocês devem estar me xingando), mas se o povo criança tivesse um pouco de educação e respeito não precisaríamos de leis assim. Isso também vale para os idosos e gestantes que aproveitam a situação para terem uma vantagem sobre os outros. Quem nunca viu um idoso indo no banco pagar as contas para um amigo jovem ou uma gestante passando na sua frente com uma criança com mais de 10 anos no colo????? Peter Pan além de nos capturar, deixou todo mundo louco por uma traquinagem, a famosa brincadeira da Lei de Gerson!!!!!

- O próprio trânsito é uma imensa brincadeira de criança, com as regras embasadas na paciência e nas agilidades dos espertinhos em passar os carros a qualquer custo, nem que isso cobre a vida dele e a sua!

Bem, acredito que não temos mais solução, seremos para sempre crianças!!! Garçom passa a régua e vê quanto fica os refrigerantes (tubaínas é claro!), pois bebidas alcoólicas não são liberadas para crianças...


3M

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Festa do Caralho

“A sala está sufocante, as gravatas encharcadas, os cafés esgotados, os ternos abarrotados, os ânimos exaltados, as frustrações batem à porta, os relatórios agridem, mais um pouco, mais pouco... em poucas palavras: Você foi convidado para a festa do Caralho e acabou indo fantasiado de Cu, todos já estão bêbados e olhando para você.”


3M

terça-feira, 13 de maio de 2008

Cansei!...

Cansei!
Cansei de me cansar.
E desta gente que vive se cansando,
Que diz estar cansada de tudo.

“Cansei disso”
“Cansei daquilo”
Chega!

Eta povinho que vive cansado!
Eta mundo cansativo!
É tanta canseira, tanta canseira,
Que me canso só de pensar.

“Cansei dessa violência!”
“Cansei dessa cidade!”
“Cansei desse emprego!”
“Cansei desses políticos!”

Se as pessoas descansassem um pouco,
Se parassem um segundo,
Poderiam, descansados,
Reunir forças para mudar tudo o que as cansam.

Mas todos estão sempre correndo.
Logo, sempre cansados.
Como não estar cansado
Se não se pára um só segundo pra descansar?

Então chega!
Já que ninguém descansa,
Descanso eu.

Cansei...


Urubú

terça-feira, 6 de maio de 2008

Monólogos solitários antes do último gole

Às vezes tenho um estalo e penso como os nativos tupiniquins lidam com a solidão em uma mesa de bar. Acredito, após várias “monodiscussões” (pois o meu companheiro de blog não estava neste momento), que o Bar pode ser um grande lugar para a reflexão e in-reflexão. Vamos aos fatos:

Cidade de São Paulo, o cinza que cobre o céu e o asfalto, a fina garoa com poluição que escorre pelo cabelo, o stress do dia-a-dia a cada esquina, os semáforos tentando comunicação inutilmente, o sentimento de solidão entre milhões de pessoas que preferem morar no caos a de procurar outro lugar. Mas o que sustenta todo o bom senso antes que a própria população cometa um genocídio ou uma conversão em massa para alguma igreja, católica ou evangélica???? A resposta é simples e encontra-se abaixo dos meus tênis imundos: O Bar!

Todos os freqüentadores de bares são amigos mútuos antes de beber (imagem depois de alguns copos). Todas as divergências são discutidas sem nenhum problema (até mesmo a tríplice do mal: Futebol, Política e Religião), com argumentos sofisticados e criativos. Claro que no dia seguinte muitos não se lembraram de nada, a não ser da terrível dor de cabeça. Grandes pensamentos ou até a resolução dos problemas no mundo, do futebol, da igreja, de Israel e da Palestina serão apagadas com um simples ENGOV (nos próximos capítulos discutiremos este remédio do mal, criado pelo Capitalismo), mas quem se importa? No dia seguinte iremos ao mesmo bar e discutiremos as mesmas coisas e chegaremos a conclusões iguais ou diferentes (manda um ENGOV!!!!!). Isso é reflexão! O bar mantém o seu maior pesadelo longe. Acho que todos os donos de bares deveriam formar-se psicólogos ou sociólogos. Adeus a solidão!!!!!

Tudo ótimo, tudo bom, mas vamos para as in-reflexões. O bar não ajuda em nada à distância de alguém especial. Aquele alguém que tem nome, que tem o seu telefone, que já freqüentou a sua casa, que te ajudou nos piores e melhores momentos. O bar está cheio de pessoas, mas ao mesmo tempo está vazio. A cada hora que passa no relógio acima da bancada das bebidas a sensação de solidão o acompanha. Ninguém ali conseguirá criar soluções milagrosas ou pior, nem o ENGOV (ou milhares de Engovs) farão a sensação sumir... Pior, tudo no bar fará você lembrar a pessoa: as azeitonas pretas serão os olhos, as cervejas geladas serão os pés dela numa noite fria, as frutas da caipirinha serão seus lábios...

Podemos, ou não, encontrar as respostas em um bar na cidade cinzenta ou, se preferir, faça o que eu faria: “- Fecha a minha conta, que eu tentarei mais uma vez consertar as coisas do mundo ou do meu mundo!!!”

Obs: não se esqueçam de conferir a conta, pois nos momentos de in-reflexão, os donos dos bares tornam-se sádicos sem coração e cobram coisas que você não consumiu.


3M

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Apologia à vadiagem


Não, hoje não é dia do trabalho. Em 1886, um grupo de trabalhadores que lutava por direitos trabalhistas foi assassinado pela polícia yankee. Não me alongarei nessa história tão conhecida, porém sempre ignorada pelos meios de comunicação que insistem em disseminar aos quatro ventos que 1º de maio é o dia do trabalho. Dia 1º de maio é dia do trabalhador, em homenagem a esses bravos trabalhadores.

Só quero com isso deixar claro meu repúdio a essa manipulação feita para alardear essa ideologia do trabalho. Será mesmo que o trabalho dignifica o Homem?

É senso comum acreditarmos que uma pessoa honesta e honrada tem um trabalho. Por que? Diz-se que alguém decente deve manter-se, e a sua família, exercendo um trabalho útil a sociedade. E que o nível de sua dignidade é diretamente proporcional a quantidade de tempo que esse indivíduo passa trabalhando. Natural? Pois é, nem sempre foi assim. Na antigüidade o trabalho era considerado indigno, e era exercido pelos escravos ( a própria palavra "trabalho" tem origem latina, tripalium, que era um instrumento de tortura romano). Assim, as pessoas livres tinham tempo livre de sobra para passar os dias a beber vinho e filosofar. E nossa laboriosa sociedade é baseada nos conceitos criados por esses gregos bêbados e vagabundos.
Até a idade média o trabalho era regrado pela natureza. Começava-se o dia com o sol e terminava-se quando ele se punha. Épocas de plantação e colheita determinavam o quê e quando fazer.

Tá bom, eu sei que vivemos em um chamado "mundo moderno", que a industrialização mudou tudo, que hoje nos regramos pelo relógio, time is money, blá, blá, blá. Sei de tudo isso. Mas não me venham com este papo de liberdade. Ela não existe! Não existe integralmente a ninguém e só a exerce minimamente quem não tem preocupações com dinheiro. Os outros 99,9% das pessoas estão presas a esse compromisso. Ou você trabalha ou está condenado a não viver (considerando nossas leis e nossa moral, é claro). Essa idéia me causa uma profunda agonia. Viver preso a esse eterno compromisso é algo que contraria qualquer conceito de liberdade.

Recentemente assisti a uma palestra do senador Eduardo Suplicy, onde ele explicava seu projeto de Renda Básica da Cidadania, que, a grosso modo, garante uma renda de sobrevivência digna, de mesmo valor, a todos os cidadãos, do mendigo ao mega empresário. A partir disso, comecei a refletir sobre os tais conceitos de liberdade e valorização do trabalho. Creio que essa seria uma forma de nos aproximarmos de algo parecido com a tal liberdade. Quem quiser luxo, que trabalhe.

Quero ser uma bêbado vagabundo, se assim o pretender. Ser honestamente vagabundo, eticamente incorreto, como diria um grande amigo. Quem sabe se um desses bêbados vagabundos, devidamente financiado pela sociedade, não possa criar as bases de um mundo menos injusto e cruel?


Urubú