terça-feira, 19 de agosto de 2008

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Coisas de Dercy

"Eu não falo palavrão, eu falo os apelidos que as pessoas dão para as coisas." (Dercy Gonçalves)

* em entrevista concedida a Paulo César Pereio, no programa Sem Frescura do Canal Brasil.

domingo, 3 de agosto de 2008

Meu tempo é hoje?

Ah, que saudade da boemia de outrora!

Saudade? Nostalgia? Mas será possível se nem vivi esse tempo?

Saudade. 1. Lembrança nostágica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las. 2. Pesar pela ausência de alguém que nos é querido. (Dicionário Aurélio)

Tive hoje a oportunidade de rever o filme documentário Paulinho da Viola - Meu tempo é hoje e deleitar-me com essa belíssima produção cinematográfica que tem como protagonista esse personagem fantástico e lendário da música brasileira.



Meu tempo é hoje é mais do que um documentário sobre um grande artista, é antes de mais nada um exercício de reflexão sobre temas que, embora sutis, estão escrustados em nossas vidas e dos quais não podemos nos desvencilhar. Esses temas são o tempo, sua passagem e a relação que temos com ele, e a saudade, que pode ser considerado um desdobramento, ou uma conseqüência, dessa passagem do tempo.

O filme já começa com a indagação do que é a saudade, com Paulinho da Viola conversando com um livreiro no centro do Rio de Janeiro. Esse comenta com Paulinho que sente saudades de coisas que não viveu, como quando ouve canções que não são de sua época, e Paulinho o contrapõe explicando-lhe que o que sente não é saudade e que ele está confundindo os sentimentos. Desse modo o filme se desenvolve mostrando histórias e músicas do compositor, sempre contextualizando-as na relação dele com o tempo e a saudade.

O autor de Sinal Fechado diz não sentir saudades, pois as coisas do passado vivem dentro dele, no presente. Paulinho dá o exemplo da canção Carinhoso, de Pixinguinha, que, composta de 1917, atravessou o século XX e hoje, em pleno século XXI, está presente no imaginário dos brasileiros, viva assim nas memórias. E realmente Carinhoso é um fenômeno, só hoje a vi citada, mesmo que jocosamente, como não poderia deixar de ser, em uma entrevista com Dercy Gonçalves e também no filme do Paulinho, e, outro dia, em um show do violonista Yamandú Costa no Teatro Municipal de São Paulo, bastaram dois ou três acordes para a platéia reconhecê-la e cantá-la, de cabo a rabo, emocionada.



Em determinado aspecto dou razão a ele, mas existem coisas que vivi e gostaria de viver novamente, por mais que saiba que nunca seria como a primeira vez, pelo simples fato dos momentos serem únicos. Existem ainda coisas que não vivi, não tenho nem condições de saber exatamente como eram, mas tenho uma vontade arrebatadora de as ter vivido, como o tempo dessa boemia carioca de outrora, retratada em tantos sambas e histórias, vendo o tema por esse lado fico com a sensação do livreiro carioca, afinal tenho sinto essa nostalgia de um tempo não vivido. Pode parecer piegas, mas o botequeiro que nunca teve dessas pieguices que atire o primeiro copo.

Enfim, a saudade é uma daquelas questões metafísicas que dão pano pra manga, afinal, cada um sente de uma forma muito particular e peculiar. Creio que não existem duas pessoas que sintam da mesma forma, assim, é complicada essa nomenclatura dada aos sentimentos. É claro que ela é necessária, mas até aonde vai um sentimento e quando outro começa?

Bom, mas esse é um assunto para ser tratado em meio a copos de cerveja e petiscos gordurosos.


Urubú

sexta-feira, 1 de agosto de 2008