sábado, 10 de julho de 2010

Pensamento rodrigueano

Um idiota está sempre acompanhado de outros idiotas. Mas nenhum ser é menos associativo do que o inteligente. (Nelson Rodrigues)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sermão da planície

Já disseram que da tristeza é que o poeta extrai a matéria-prima para a real beleza. Tendo a concordar. Neste momento em que nos aproximamos da final de mais uma Copa do Mundo onde o escrete canarinho foi eliminado precocemente, podemos nos consolar nas palavras do mestre Drummond aos descrentes:


SERMÃO DA PLANÍCIE
(para não ser escutado)

Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.

Bem-aventurados os que, por entenderem de futebol, não se expõem ao risco de assitir às partidas, pois não voltam com decepção ou enfarte.

Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois não sofrem de janeiro a janeiro, com apenas umas colherinhas de alegria a título de bálsamo, ou nem isto.

Bem-aventurados os que os que não escala, pois não terão suas mães agravadas, seu sexo contestado e sua integridade física ameaçada, ao saírem do estádio.

Bem-aventurados os que não são escalados, pois escapam de vaias, projéteis, contusões, fraturas, e mesmo da glória precária de um dia.

Bem aventurados os que não são cronistas esportivos, pois não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura.

Bem-aventurados os fotógrafos que trocaram a documentação do esporte pela dos desfiles de moda, pois não precisam gastar tempo infindável para fotografar o relâmpago de um gol.

Bem-aventurados os fabricantes de bolas e chuteiras, que não recebem as primeiras na cara e as segundas na virilha, como os atletas e os assistentes ocasionais das peladas.

Bem-aventurados os que não conseguiram comprar televisão a cores a tempo de acompanhar a Copa do Mundo, pois, assistindo pelo aparelho do vizinho, sofrem sem pagar 20 prestações pelo sofrimento.

Bem-aventurados os surdos, pois não os atinge o estrondar das bombas da vitória, que fabricam outros surdos, nem o matraquear dos locutores, carentes de exorcismo.

Bem-aventurados os que não moram em ruas de torcida institucionalizada, ou em suas imediações, pois só recolhem 50% do barulho preparatório ou comemoratório.

Bem-aventurados os cegos, pois lhes é poupado torturar-se com o espetáculo direto ou televisionado da marcação cerrada, que paralisa os campeões, ou do lance imprevisível, que destrói a invencibilidade.

Bem-aventurados os que nasceram, viveram e se foram antes de 1863, quando se codificaram as leis do futebol, pois escaparam dos tormentos da torcida, inclusive dos ataques cardíacos infligidos tanto pela derrota como pela vitória do time bem-amado.

Bem-aventurados os que, entre a bola e o botão, se contentaram com este, principalmente em camisa, pois se consolam mais facilmente de perder o botão da roupa do que o bicho da vitória.

Bem-aventurados os que, na hora da partida internacional, conseguem ouvir a sonata de Albinoni, pois destes é o reino dos céus.

Bem-aventurados os que não confundem a derrota do time da Lapônia pelo time da Terra do Fogo com a vitória nacional da Terra do Fogo sobre a Lapônia, pois a estes não visita o sentimento de guerra.

Bem-aventurados os que, depois de escutar este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração.


* texto publicado no Jornal do Brasil de 18/06/1974



Urubú

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sushi de Feijoada

Hoje venho aqui dar uma dica para o solteiro que vê a cozinha como um territóri hostil. O programa Larica Total (pra mim o melhor da televisão brasileira). Como estou sem TV a cabo, fazia um tempão que não assistia, mas recentemente descobri que os episódios estão postados no Youtube. Maravilhosa esta tecnologia, né?

Então aqui vai uma mostra da cozinha verdade. Então, meu amigo guerrilheiro do cotidiano, deleite-se:







Urubú

terça-feira, 6 de julho de 2010

Um brinde


Bom, depois de mais um vácuo no universo maldito, comemoro com esta postagem o início de minhas férias. Um período curto de férias, é verdade. Mas acredito que todo momento sem trabalho deve ser comemorado. Então, um brinde às férias.

Aliás, uma boa história/estória para se contar no boteco ao brindar é a da origem do brinde:

Em minha estada na Alemanha ano passado uma das coisas que mais me chamou a atenção, além dos tamanhos das canecas utilizadas para beber a cerveja, foi a espessura de tais canecas. Muito grossas! E me perguntava o porquê daquilo, até que em um bar mais tradicional em Munique eu descobri. Eles cantavam uma música tradicional (Ein Prosit) e, ao fim da música, batiam os canecos com toda a força que podiam, fazendo um estradalhaço imenso e espalhando cerveja para tudo quanto era lado.

Posto isso, vamos à história deste ritual, que iniciou-se há muitos e muitos anos, não me pergunte quantos, mas mais de mil com certeza (mas você pode inventar que foi na idade média ou usar a saída clássica: os gregos inventaram, 90% das coisas foram inventadas por eles mesmo, minimiza-se assim a chance de equívoco). O procedimento em questão tinha o objetivo de demonstrar confiança na pessoa com a qual se está bebendo. Em outros tempos era comum o envenenamento de algum desafeto pela bebida. Assim, batendo os copos com força todas as bebidas se misturam, logo um possível veneno também estaria em todos os copos.

Daí também vem a etiqueta beberônica de que, quando se brinda, deve-se beber. O que modernamente veio dar em expressões como: brindar sem beber, 10 anos sem meter; ou beber sem brindar, 10 anos sem trepar etc.


Saúde! Prosit!


Urubú