sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Maravilhas irritantes: um elogio a maledicência

Estava aqui pensando: como é bom que as coisas as quais odeio existam!

Sim, é verdade! Parece paradoxal? Incoerente? Não sei. Também achava, mas talvez não seja tanto.

Já reparam quanto tempo as pessoas perdem falando mal das coisas e, principalmente, das outras pessoas? Você mesmo, já fez uma auto-avaliação quanto a isso? Fiz um exercício desse tipo e vi que uso boa parte do meu tempo falando mal dos outros ou das coisas. Mas o mais interessante é que cheguei à conclusão que isso faz um bem danado. Alivia o stress, aguça o humor (mesmo que sarcástico), desfaz as tensões internas e o que é mais importante: dá muito papo nos botecos desse mundão de meu deus.

Você já parou pra pensar quanto tempo da sua vida você já dedicou criticando aquele cantor sertanejo ou descendo a lenha naquele funkeiro lazarento? Ou ainda maldizendo aquele mala pseudo-intelectual puxa-saco da sua sala que quer mostrar pro professor que está inteirado no assunto? Eu mesmo já esvaziei tulipas e tulipas de chopp descascando a sem graça da Ivete Sangalo e metendo o pau no irritantemente arrogante Arnaldo Jabor. Isso faz um bem danado! Imaginem se fossemos meter a mão na cara de todos os que não gostamos. O mundo seria infernal. Assim, nós aliviamos nossas raivas e descarregamos nossas pressões internas através desse ato de maldizer, que no fim é uma atividade social. Daria um estudo sociológico, hein: A maledicência como fator de interação social.

Mas é bom deixar claro que, apesar de ser ótimo maldizer as pessoas, deve-se sempre manter a boa educação e a elegância. Como nos ensina o mestre Ariano Suassuna, ao contrário do que nos diz o senso comum sobre a dignidade das atitudes, não é de bom tom falar mal das pessoas na cara. Afinal, não custa nada deixar ela virar as costas para dizer o que realmente pensa dela.

Enfim, hoje é dia de contradição. Não vou falar mal dos sertanojos, dos axezeiros, dos Arnaldos Jabores ou dos Humberto Gessingers da vida. Ao contrário, saudarei e brindarei suas existências. É graças a essas criaturas que minha vida tem mais graça e o papo botequeiro fica mais animado. Salve tais maravilhas irritantes!


Urubú

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