sábado, 19 de abril de 2008

Resposta Anti-saudosista

Dando continuidade as reflexões ‘boêmicas’ de meu amigo 3M, também tive as minhas.

Em primeiro lugar, tenho que deixar claro aqui que sou um saudosista inveterado, portanto em um jogo entre passado e presente, esse último nunca teria chances de vitória. Não, não nego que os avanços tecnológicos trouxeram coisas bem interessantes para a nossa vida cotidiana. Não nego também que muitas dessas novidades da ciência nos propiciam fazer coisas fantásticas , impensáveis há dez anos, como esta publicação online, por exemplo. Mas é essa mesma tecnologia que nos trouxe uma avalanche, ou para usar as palavras do meu parceiro de blog, uma ‘overdose de informações’. Para alguns, essa absurda abundância de informação representa a sua democratização, para outros porém, e como não poderia deixar de ser tendo a concordar com essa corrente, é uma demonstração do quão perdida esta nossa sociedade, atolada num lamaçal de dados onde as pessoas não sabem ao certo o que procurar. Mas não quero fugir ao assunto, então vamos lá.

Realmente temos mais opções de bares hoje, cada vez que saio à rua aqui pela Vila Madalena vejo um novo. Temos acesso a uma infinidade de cervejas importadas, dos mais diversos sabores, texturas e o diabo a quatro, bares temáticos pra cima e pra baixo, bar de futebol, de samba, de rock, sushi bar, bar brechó e sei lá mais o quê. Apesar de tanta especificidade nos temas, não consigo perceber uma identidade nesses lugares. Claro! pois identidade não é algo que se compra ou se faz com uma decoração, identidade se consegue com o tempo. E de todas essas novidades da moda, se espremermos bem, e darmos uma boa coada, não creio que restará muita coisa, muito mais opções do que havia ‘antes’. Afinal de contas o melhor boteco de São Paulo continua sendo o Bar Leo, com sua combinação perfeita entre o primoroso chopp, fabulosamente cremoso, e o inigualável sanduíche Polaco, e acho que 3M concorda. E os melhores lugares para reunir os amigos ainda são os tais bares ‘do Alemão’, ‘do Luizão’, ‘do João’. Então o passado abre o marcador.

O mesmo fenômeno do milagre da multiplicação que se dá com os bares, acontece com as baladas, leia-se aqui as baladas ‘boêmias malditas’, que acho que logo ficará claro de que tipo são. Pipocam novas casas como as que meu companheiro citou anteriormente, e realmente algumas delas valem muito a pena. Recentemente conheci a Berlin, na Barra Funda, e gostei bastante, apesar da maioria das bandas que tocam lá serem horríveis, com o perdão da franqueza porque estou longe de ser um grande músico. Mas elas estão longe de terem o charme das saudosas Retrô, Aeroanta e Madame Satã, onde já vi o sol nascer e os vampiros correrem para seus caixões para não virarem cinzas.
Quanto ao valor da música eletrônica, isso nem deveria merecer comentários, mas como não agüento omitir-me em face a tão grave assunto... ... ... ...sem comentários! Acho que fui claro, certo?

Pelo que expus até aqui, já dá pra se ter uma noção do que penso a respeito do terceiro tópico, música. A possibilidade de colocar seu trabalho no mundo e divulgá-lo livremente, sem ônus, que temos na atualidade, ao contrário do que poderiam pensar os entusiastas dessa nova forma de mídia, e desta vez incluo-me na turma dos modernosos, pelo menos para esse tipo de mídia não trouxe nenhuma revolução musical, nem no campo estritamente sonoro/estético, nem no campo ideológico. O que temos de mais representativo desse universo são fenômenos da chatice como “Cansei de ser sexy”, entre outros. Claro que temos coisa nova e boa, estava ouvindo umas coisas mais recentes da Nação Zumbi hoje, simplesmente fantástico! Mas é inegável a ‘entressafra’ auditiva que vivemos. Fora a enxurrada de bandas sem sal nem açúcar que nos empurram guela abaixo da gringa, é pouquíssima coisa que se salva.

Enfim, 3M explica muito bem em seu artigo o sentimento quanto as tradições sobre LP e K7 e o que era gostar de música entre 10 e 15 anos atrás. Compartilho quase que integralmente de tudo o que disse nesse campo, então apenas assino embaixo (neste caso, acima). Mas, ao contrário do seu desfecho, não sei se serei tão claro, pois apesar de todo esse meu discurso saudosista radical, gosto de conviver com toda essa lenga-lenga, com todo esse mau gosto e vulgaridade. Afinal, as cousas se reconhecem através de seus opostos, e quanto maiores forem as dores, maiores serão os prazeres.

Urubú

Nenhum comentário: