segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Chapeuzinho vermelho da taberna

Muito próximo a onde eu estive hospedado em Berlim, há um cemitério conhecido pela quantidade de gente ilustre que ali descansa. Confesso que nunca fui muito ligado em cemitérios e, na verdade, sempre os evitei. Mas a notícia de que dois irmãos, Jacob e Wilhelm, os irmãos Grimm, ali estavam enterrados me fez visitar o tal local. Estranhíssimo local, diga-se de passagem, bem mais estranho do que um cemitério já é por natureza. É um cemitério relativamente antigo, do século XIX, e tipicamente luterano. Mas o mais esquisito de tudo é que, dentro dele, dentro mesmo!, funciona um café. E não um café de velório, é um café, sim, badaladíssimo! As pessoas o freqüentam no café da manhã ou para um chá no fim das tardes de verão. Morbidamente inacreditável!

Mas estou contanto essa pequena lorota para introduzir um texto interessantíssimo que caiu em minhas mãos na semana passada e que logo pensei em publicar aqui. Todos nós nos lembramos daquelas antigas estórias e contos de fadas que nossos pais nos contavam, eles também foram inúmeras vezes representados nos cinemas e em desenhos animados. Essas estórias, em grande parte, foram coletadas pelos famosos Grimm (os mesmos que visitei em Berlim). No entanto, devido ao extremo moralismo que os rodeavam, advindo de uma sociedade predominantemente luterana/calvinista, a maioria desses contos coletados no interior da Europa teve de receber uma certa adaptação para serem publicados. O texto que recebi, e transcrevi aqui, é uma versão, como era contada nas tabernas do século 18, do famoso conto da chapeuzinho vermelho. Todos se lembram da versão romântica e com final feliz da versão dos Grimm. Repare como é mais cruel, malicioso e interessante:


Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um pouco de pão e de leite para sua avó. Quando a menina ia caminhando pela floresta, um lobo aproximou-se e perguntou-lhe para onde se dirigia.
- Para a casa de vovó – ela respondeu.
- Por que caminho você vai, o dos alfinetes ou o das agulhas?
- O das agulhas.
Então o lobo seguiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó, despejou seu sangue numa garrafa e cortou sua carne em fatias, colocando tudo numa travessa. Depois, vestiu a roupa de dormir e ficou deitado na cama, à espera.
Pam, pam.
- Entre, querida.
- Olá, vovó. Trouxe para a senhora um pouco de pão e de leite.
- Sirva-se também de alguma coisa, minha querida. Há carne e vinho na copa.
A menina comeu o que lhe era oferecido e, enquanto o fazia, um gatinho disse: “Menina perdida! Comer a carne e beber o sangue de sua avó!”
Então, o lobo disse:
- Tire a roupa e deite-se na cama comigo.
- Onde ponho meu avental?
- Jogue no fogo. Você não vai precisar mais dele.
Para cada peça de roupa – corpete, saia, anágua e meias – a menina fazia a mesma pergunta. E, a cada vez. O lobo respondia:
Jogue no fogo. Você não vai precisar mais dela.
Quando a menina se deitou na cama, disse:
- Ah, vovó! Como você é peluda!
- É para me manter mais aquecida, querida.
- Ah, vovó! Que ombros largos você tem!
- É para carregar melhor a lenha, querida.
- Ah, vovó! Como são compridas as suas unhas!
- É para me coçar melhor, querida.
- Ah, vovó! Que dentes grandes você tem!
- É para comer melhor você, querida.E ele a devorou.


Urubú

Um comentário:

Paulo Ayrton disse...

kkkkk!

Prefiro a versão sanguinolenta!